Mais um milagre para emagrecer
O assunto mais
comentado das últimas duas semanas foi o medicamento Liraglutida, o
Victoza do laboratório farmacêutico Novo Nordisk. A reportagem
bombástica, de capa, da revista Veja, “Parece um Milagre”, animou nossos
pacientes mais desiludidos. Nossa caixa de mensagem ficou abarrotada,
nossos antigos pacientes voltaram a ligar e marcar consulta, os estoques
da medicação em todas as farmácias paulistas esgotaram. Venderam em 3
dias a quantidade programada para o mês de setembro. O mais difícil tem
sido explicar, a todos eles, que não existem milagres emagrecedores.

Infelizmente, matérias como essa podem
denegrir a imagem de um bom medicamento. As pessoas vão cair em si e
constatarem que o milagre não aconteceu e vão chegar à conclusão de que o
remédio não é bom. Na verdade, esse medicamento representa o que há de
mais moderno em pesquisa de tratamento do diabetes,
mas não é um bom emagrecedor. Quando comparado com os demais
medicamentos que dispomos para o tratamento do diabetes, a liraglutida
tem a grande vantagem de não causar ganho de peso, como ocorre com as
outras drogas antidiabéticas e pode, mesmo, causar pequena perda de
peso.
Para os não diabéticos, não temos nenhum
estudo conclusivo com o uso da liraglutida. Os estudos que dispomos em
populações livres da doença são todos pré-diabéticos, ou seja, possuem
as alterações metabólicas que prenunciam a doença, e apesar de não serem
diabéticos, são assim chamados porque não mais preenchem os critérios
de normalidade. Estão, na verdade, a meio caminho, entre a normalidade e
a doença.
Por mais que sonhamos com um medicamento que cause perda de peso
sem mudanças no estilo de vida e sem empenho do paciente, nada indica
que tenhamos essa maravilha tão cedo. Depoimentos de sedentários
convictos contando vantagens de perdas de alguns quilos em alguns dias
não significam nada frente à longa jornada que terão pela frente. Ao
lerem tais declarações, nossos pacientes passam a imaginar como seria
fácil para eles alcançarem o mesmo objetivo.
A lição a ser tirada de mais essa história
de desinformação e enganos, é que medicamentos não podem ser discutidos
de maneira tão superficial e generalizada. Além de não serem indicados
para todos os pacientes, esses medicamentos são muito novos para termos
uma idéia real do seu efeito potencial. Em nossa experiência, alguns
pacientes chegaram a ganhar peso após o uso do Victoza durante os dois
primeiros meses, com acompanhamento médico e de nutricionista. Nem por
isso, podemos concluir que o medicamento cause ganho de peso.
Sabemos que o efeito placebo pode sim,
operar milagres. Esse efeito ocorre em 30% das pessoas que usam um
medicamento sem efeito, imaginando que ele seria poderoso. Quando o
placebo é muito caro e injetável, ele tem o seu poder de mobilização
ampliado. Isso pode também ocorrer com o Victoza em relação à perda de
peso. Com relação ao diabetes, não há dúvidas do seu real benefício para
o controle da doença.Citen
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